28.11.07

Os demónios (Allan Kardec)



(fotografia de Anne Brigman, "The Lone Pine", 1908)

"A ideia de demónio não implica a ideia de espírito mau, senão na sua acepção moderna, porque o termo grego daimôn, donde ela resultou, significa génio ou inteligência e aplica-se indistintamente aos seres incorpóreos, sejam eles bons ou maus.

Por demónios, segundo a acepção vulgar da palavra, entendem-se seres essencialmente malfazejos. Como todas as coisas, seriam criações de Deus; sendo Ele soberanamente justo e bom, não pode ter criado seres destinados, pela sua natureza, ao mal e condenados por toda a eternidade. Se não fossem obra de Deus, existiriam, como Ele, desde toda a eternidade; ou então, existiriam muitas potências soberanas.

A primeira condição de toda a doutrina é ser lógica. Ora, à dos demónios, no sentido absoluto, falta esta base essencial. Concebe-se que povos atrasados, os quais, por desconhecerem os atributos de Deus, admitem nas suas crenças divindades maléficas, também admitam demónios. Mas, é ilógico e contraditório de quem faz da bondade um dos atributos essenciais de Deus possa supor que ele tenha criado seres destinados ao mal e a praticá-lo eternamente, porque isso equivale a negar-lhe a bondade. Os partidários dos demónios apoiam-se nas palavras de Cristo; não seremos nós a contestar a autoridade dos seus ensinamentos, que desejaríamos ver mais no coração do que na boca dos homens. Mas, estarão esses partidários certos do sentido que ele dava a essa palavra? Não é sabido que a forma alegórica constitui um dos caracteres distintivos da sua linguagem? Dever-se-à tomar à letra tudo o que o Evangelho contém? Não precisamos de outra prova, além da que nos fornece esta passagem:

«Logo após esses dias de aflição, o sol escurecerá e a lua não mais dará sua luz; as estrelas cairão do céu e as potências do céu serão abaladas. Em verdade vos digo que esta geração não passará, que todas estas coisas se tenham cumprido»

Não temos visto a ciência contradizer a forma do texto bíblico, no que se refere à criação e ao movimento da terra? Não se dará o mesmo com algumas figuras de que Cristo se serviu, na medida em que tinha de falar de acordo com os tempos em que viveu e com os lugares por onde passou? Não é possível que tenha dito conscientemente uma falsidade; se, no entanto, nas Suas palavras há coisas que parecem chocar a razão, é porque não as compreendemos bem ou porque as interpretamos mal.

Os homens fizeram com os demónios o que fizeram com os anjos; como acreditaram na existência de seres perfeitos desde toda a eternidade, tomaram os Espíritos inferiores por seres eternamente maus. Devem entender-se por demónios os seres impuros que, muitas vezes, não valem mais do que as entidades designadas por este nome, mas com a diferença do estado deles ser transitório. São Espíritos imperfeitos, que se rebelam contra as provações porque têm de passare que, por isso mesmo, levam mais tempo a sofrê-las. Contudo, conseguem sair desse estado quando o quiserem. Deste modo, poderíamos aceitar a palavra demónio com esta restrição. Mas, como a entendemos actualmente num sentido exclusivo, poderá induzir em erro, fazendo crer na existência de seres especiais criados para o mal.

Satanás é, evidentemente, a personificação do mal sob forma alegórica, visto não se poder admitir que exista um ser mau destinado a lutar, de poder a poder, com a Divindade, tendo por única preocupação contrariar-lhe os desígnios. Como precisa de figuras e imagens que lhe impressionem a imginação, o homem pintou os seres incorpóreos sob uma forma material, com atributos que lembram as qualidades ou os defeitos humanos. É assim que os antigos, ao quererem personficar o tempo, pintaram-no com a figura de um velho munido de uma foice e de uma ampulheta. Representá-lo com a figura de um mancebo seria um conta-senso. O mesmo se verifica com as alegorias da fortuna ou da verdade, entre outras. Os modernos representaram os anjos, ou puros Espíritos, com uma figura radiosa, de asas brancas, emblema da pureza. Satanás, aparece com chifres, com garras e com os atributos da animalidade, emblema das paixões vis. O povo, que toma as coisas à letra, viu nesses emblemas individuades reais, como vira outrora Saturno na alegoria do Tempo." (1)






(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 95, 96.

27.11.07

Organ Eye (Organ Eye)



(imagem dos Organ Eye, retirada daqui)

Em Junho ou Julho de 2007, descobri a arte da David Maranha, através de um concerto que ele deu na Zé dos Bois. O concerto foi muito interessante e aproveitei logo para comprar um CD, tendo sido escolhida a obra Marches of the New World, já referida neste blog (aqui). Gostei bastante e aproveitei, mais tarde, para comprar via net um outro disco, intitulado Organ Eye, que é também o nome do grupo no qual Maranha estava inserido.

De acordo com a informação veiculada no myspace da banda, os Organ Eye são um projecto conjunto de dois membros do colectivo Osso Exótico (David Maranha e Patricia Machás) e dos Minit (Jasmine Guffond e Torben Tilly). A editora é a Staubgold, editora alternativa alemã especializada em free jazz, música electrónica e experimental. O disco é de 2007.

Atente-se ao que diz Pedro Gomes:

"A cumulative effort in several senses, Organ Eye assembles some of Maranha's and Machás's work in Osso Exótico exploring hypnotic, repetitive & ritualistic properties found in the use of several acoustic and electrical devices. Minit's previous output, as can be observed in their 2003 Staubgold release Now Right Here, is a mind-expanding/soul-mellowing exercise of drone music, processed and designed via digital media. The intersection and addition to this sum, is the fully-formed patchwork of eternal sound vibration they manage to generate in unison, taking from the seminal teachings of the Young/Conrad/Riley axis, and deconstructing the spiritual trip as to be able to reposess it and make it their own. Throughout the record's two tracks (both over the 20 minute mark), circular fuzzed out Hammond riffs keep realigning the same fragments as they change throughout the jams, while delicate violin sweeps draw up the soundspace. Digital treatment, processed acoustic sources & a number of precise sonic particles are constantly thrown onto the ululating harmonic lines, until they unlock the grooves, and revelation times occurs. Organ Eye is drone music in modern forms as spiritual alignment in crescendo, like constellations drawing themselves up, finding an opening for the infinite, blasting away, seeing it manifest itself and being a part of it, then walking away from it, simultaneously observing and generating its disintegration. At the end of the day it's beautiful irony that some truly cosmic experience and a secular ritual can be reinvented and still manifest itself with clarity while undergoing scalpelization. The rest is just down to taking it into the outer regions and sharing the trip once again, to reenter the holy channels of ineffable feeling, to forget and relearn, forever"
(crítica de Pedro Gomes, retirada do myspace da banda - aqui).

O myspace dos Organ Eye aqui.

O myspace dos Minit aqui.

O myspace de David Maranhe e dos Osso Exótico aqui.

Jorge Vicente

Maria do Rosário Pedreira



(fotografia de Bill Brandt, "Coal Searcher Returning Home", 1936)

"antes de um lugar há o seu nome. e ainda
a viagem até ele, que é um outro lugar
mais descontínuo e inominável. lembro-me
do quadriculado verde das colinas,
do sol entretido pelos telhados ao longe,
dos rebanhos empurrados nos carreiros,
de um cão pequeno que se atreveu à estrada.
íamos ou vínhamos" (1)

Maria do Rosário Pedreira





(1) PEDREIRA, Maria do Rosário - A casa e o cheiro dos livros. Lisboa: Quetzal, 1996. p. 27.

26.11.07

Concertos que eu fui: Irmãos Catita



(fotografia dos Irmãos Catita)

No dia do concerto dos Irmãos Catita, em 14 de Julho de 2007, muitas actividades interessantes estavam a acontecer por toda a cidade de Lisboa. Para quem ainda não percebeu, esta cidade vibra por dentro, todas as suas artérias têm uma vida imensa que passa despercebida ao mais desatento dos cidadãos. É o Onda Jazz que, todos os fins de semana, alberga músicos interessantes de todos os quadrantes musicais; é o Sítio do Cefalópode, que, infelizmente fechou as portas em Outubro, também um local bastante apeteceível em termos de jazz e de outras músicas. E temos, também, a Galeria Zé dos Bois, com os seus concertos alternativos que acontecem todas as semanas, o Lounge Bar, o Music Box e tantos outros.

Ora bem, nesse dia, 14 de Julho de 2007, decidi ir mais o Vasco ver os Irmãos Catita. Mas, antes, por volta das 17.00 (ou terão sido 16.00?), ainda fomos ao Lisboa Zen. O Lisboa Zen era uma feira alternativa localizada no Jardim Botânico Tropical, aquele junto ao Palácio de Belém. Por volta dessa hora, lá estavamos nós, desejosos de experimentar o que a feira tinha para oferecer. Não era um recinto muito grande, na minha opinião, era pequeno de mais se comparado com um que eu tinha ido meses antes, numa outra feira, praticar biodanza. Mas estavam lá as já tradicionais leituras da aura, o Brahma Kumaris, os livrinhos que normalmente se vendem nestas feiras, etc, etc.

Quando saímos, já era tarde e tínhamos de jantar para podermos ir ver os mui queridos Irmãos Catita, no Cabaret Maxime, por volta das 22.00. Escolhemos um restaurante qualquer na zona de Belém, comemos o nosso pratinho e decidimos partir. Como ainda era cedo, fomos a pé. A sério: a pé de Belém até ao Maxime, passeando pela Junqueira, pela zona do Hospital Egas Moniz, subindo de Alcântara até ao Museu Nacional de Arte Antiga até à velha Calçada do Combro. Foi um estafanço, demorámos mais de uma hora, mas chegámos ao local desejado, às portas do antro de perdição mais interessante da cidade de Lisboa, porque tremendamente kitsch, tremendamente popular, português e, ao mesmo tempo, avant-garde. Afinal de contas, que outra zona de Lisboa alia sabonetes afrodisíacos dos anos 50 com capas de discos de vinil dos Beatles? Só a mente retorcida de Manuel João Vieira, que está estampada no Maxime em todos os cantos.

Ainda esperámos um bom bocado para ver o concerto, bebemos uns sumos e metemos conversa com o porteiro, para saber onde comprar alguns daqueles produtos kitsch que estavam nas montras. Afinal de contas, por detrás de produtos kitsch, existe um verdadeiro arsenal de preciosidades antigas, desde fotografias eróticas a livros do Patinhas, passando por discos em vinil dos Shalamar e outros êxitos disco.

Depois de alguns sumos, o concerto lá começou com o seu som retro e muito engraçado. Não vou estar a aqui a discutir as letras porque o meu blog é muito bem intencionado, mas vale a pena saber que ainda existe alguém neste país a fazer canções subversivas, bem tocadas, bem interpretadas, com um naipe de músicos espectaculdares e que sabem bem o que fazem. Se são os Irmãos Catita ou os Corações de Atum ou mesmo os Ena Pá 2000, pouco interessa. Fazem parte da minha cultura musical portuguesa e da de muitos outros que cresceram no final dos anos 80 e princípios de 90.



(o fado "Fado Barnabé" dos Irmãos Catita)

O site dos Irmãos Catita aqui


Jorge Vicente

Concertos que eu fui: Norah Jones



(fotografia de Norah Jones)

Tudo aconteceu em 22 de Julho de 2007, nos Jardins do Casino Estoril. Norah Jones estava em Portugal, integrada no festival CoolJazzFest. Cheguei um pouco antes da hora marcada, por volta das 20.30 e sentei-me nuns bancos que foram montados na parte superior do jardim, mais para ao pé do Casino. O palco estava lá longe e não se conseguia notar a real dimensão das emoções que se espraiavam no palco.

Conhecia a obra de Norah Jones apenas pelos discos. Tinha gravado Come Away With Me dois anos antes, mas já conhecia, menos bem, evidentemente, os seus outros discos. Gostava muito do disco, apesar de achar de achar que "Don't Know Why" já perdera (um pouco) a sua intensidade devido a passar milhentas vezes na rádio. Sempre me fez confusão isso: porque razão Norah Jones tinha tanto sucesso? Na altura, achei estranho que pudesse estar a vender milhões de discos, conjuntamente com os Limp Bizkit, Linkin Park ou Britney Spears. Não era tão jazz como Diana Krall nem tão comercial como outras cantoras da sua idade, mas o sucesso de "Don't Know Why" catapultou-a para a fama. Penso que foi merecido, embora ache que ao lado de Norah Jones, deviam estar Gillian Welch, Fiona Apple, Rickie Lee Jones e outras cantoras que cantaram de modo muito próprio a alma americana. Foi um pouco de sorte, sorte imaculada.

Na minha opinião, Norah Jones nunca foi uma verdadeira jazz singer. Tinha tanto de jazz como tinha de folk/country ou pop e a prova disso foi o concerto que eu fui ver. A primeira parte foi preenchida pelo maravilhoso M.Ward, um indie rocker com especial apreço pela tradição folk e country norte-americana. Norah Jones cantou com ele na primeira parte e todos ficámos boquiabertos (eu fiquei). Ela fez a primeira parte com ele, cantou com ele aquelas canções que irradiavam gospel por todos os lados e depois ainda tem a lata de ir cantar as canções dela, com um intervalo de vinte minutos, para nós nos recompormos? Foi muito bonito e acho que foi o momento alto da noite. Pelo menos, ficou-me na memória, muito mais do que as canções que ela canta ao piano. Acho que ela devia tocar mais guitarra. E devia apostar em cantar mais com M.Ward. E com Gillian Welch, se puder ser. A versão que ela (e M.Ward) fizeram de "My First Lover" foi espectacular.



(vídeo do concerto de Norah Jones em Nîmes, interpretando "My First Lover" de Gillian Welch, com M.Ward)



(vídeo de M.Ward, "Chinese Translation")

a biografia de Norah Jones aqui
o site de Norah Jones aqui
o myspace de Norah Jones aqui

a biografia de M.Ward aqui
o site de M.Ward aqui
o myspace de M.Ward aqui

Jorge Vicente

25.11.07

"In Your Mind" (Rich Kids on LSD)



(fotografia de Walker Evans, "West Virginia Living Room", 1935)

"One, Two, One, Two, Three, Four!
Well, I'm so tired of your whining,
Yes, I've said this all before,
If you didn't hear the first time here's your chance you get one more.
So listen close to what I say,
It'll change the way you live.
For the second time it's simple - Think Positive!
Take a situation that someone says stinks,
And make it good, it's probably just a shitty way he thinks.
So pack a bowl sit back, relax, and listen real close.
And afterwards we'll raise some hell, get drunk, and drop a dose.
You keep on trying and one day you'll find out what it means, means.
If life's what you make it, make it good,
It's never as bad as it seems, seems.
We're all stuck here together in this twisted misery.
Is life a game a lesson or just one big mighty score,
If so, who's the boss?
Where's the teacher?
What's the score?
Why am I here, what is my job,
What purpose do I serve,
Is there an answer to these questions or a lesson to be learned?
When I die where do I go,
The final act or premiere show,
Is someone there to take my hand and lead the way?
Or am I on my own and now full grown,
Being that my mind is blown.
Supposed to use the answers that I found along the way.
You thought you knew it all but still the answers you couldn't find, find
Until you realize life's what you make it and it's all in your mind, mind
You broke the chains which held you down so long
Now your free!
Well, waited so long for this day to be free,
Breaking the chains that we're binding me.
Don't look so hard, it's easy to find,
Life's what you make it, it's all in Your Mind.
You can't fight depression, it's not a disease.
If you say your life sucks then it will suck indeed.
Be happy or sad or whatever you chose,
And I know I can win I'm not destined to lose.

Never quit or give up even if you've had enough
You're not a loser despite what you believe
Try your hardest, do your best,
Life's not hard, but it's a test to see who's blind and naive.
Never done, you'r on the run, relax and have a little fun.
Let's race and see who falls behind.
It's in my mind!" (1)

RICH KIDS ON LSD



(1) retirado do CD dos Rich Kids on LSD, Riches to Rags, 1995.

Os Rich Kids on LSD são uma banda bastante interessante de hardocore punk. Oriundos da California, são já bastante antigos, tendo-se formado em 1981 em Montecito. O seu género musical foi bastante influenciado pelo "Nardcore", um subgénero do punk praticado pelos grupos do Sul da California. O nome de "Nardcore" foi dado porque muitas das bandas oriundas da área tocavam em Oxnard, cidade situada 60 milhas a oeste de Los Angeles. Para além dos RKL, podem-se mencionar também os A.F.U., Dr. Know, Habeas Corpus, Aggression, entre outras.

Voltando aos RKL, eles, depois, misturaram o som tipicamente hardcore com um pouco de rock, causando sensação nos palcos europeus e no meio sempre alternativo dos skaters. O álbum que eu ouvi, Riches to Rags, é de 1995 e saiu numa altura em que a banda já não tinha a mesma importância que tivera antes. Mas, continua a ser um álbum bastante interessante.

Aqui, no yahoo video, o vídeo de "Betrayed"

a biografia da banda aqui

o site da banda aqui



(um poster da banda, retirado daqui



Jorge Vicente

Aos Meus Amigos



(imagem de um belo crepúsculo)

dedicado a vocês todos, que merecem o prémio da amizade:

Lumife
Maria
Mana
Ana Freire
Ana Costa

AOS MEUS AMIGOS

Disseram-me que, de manhã,
se ouve o Tejo todo,
e que as pessoas transportam em
si aquela imensidade vasta,
como quem é feito de História
e não sabe porquê

disseram-me que o tempo não
volta ao lugar onde nasceu, e
que os amigos que se perdem são
como o areal à volta da minha casa:

os retalhos, as migalhas, a presença
sempre ausente das águas em
combustão

e a sensação de que sempre foi assim,
com aquelas mesmas pessoas,
com aqueles mesmos rostos,
por dentro da História
e com o Tejo debaixo dos braços

Jorge Vicente

Bilocação Extrafísica (Allan Kardec)



(quadro de Domenico Fetti, "Jacob's Dream", 1600's)


"92.
Têm os espíritos o dom da ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo?

«Não pode haver divisão de um mesmo Espírito. Cada um, funciona como um centro que irradia para diversos lados e é por isso que parece estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É só um. No entanto, irradia em todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Apesar disso, não se divide.»" (1)

Allan Kardec

Claramente um fenómeno espiritual, a bilocação aparece nas várias tradições religiosas. No Cristianismo, o fenómeno mais interessante terá ocorrido por volta de 1774, quando Santo Afonso de Ligório, preparando-se para uma Missa, entrou em transe e apareceu ao lado de Clemente XIV, quando ele jazia moribundo no seu leito de morte. Outros exemplos de bilocação ocorridos no meio cristão foram: Santo António, São Gerardo Majella, etc. Outros casos mais recentes incluem o famoso ocultista Aleister Crowley. (fonte: Wikipedia)

Jorge Vicente


(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 82.

"Nowhere Man" (John Lennon / Paul McCartney)



(fotografia de Ilse Bing, "Champ de Mars, Paris", 1931)

"He's a real nowhere Man,
Sitting in his Nowhere Land,
Making all his nowhere plans
for nobody.

Doesn't have a point of view,
Knows not where he's going to,
Isn't he a bit like you and me?
Nowhere Man, please listen,
You don't know what you're missing,
Nowhere Man, the world is at your command.

He's as blind as he can be,
Just sees what he wants to see,
Nowhere Man can you see me at all?

Nowhere Man, don't worry,
Take your time, don't hurry,
Leave it all till somebody else
lends you a hand.

Doesn't have a point of view,
Knows not where he's going to,
Isn't he a bit like you and me?

He's a real Nowhere Man,
Sitting in his Nowhere Land,
Making all his nowhere plans
for nobody.
Making all his nowhere plans
for nobody.
Making all his nowhere plans
for nobody." (1)

THE BEATLES




(1) retirado do CD dos Beatles, Rubber Soul, de 1965.



Jorge Vicente

23.11.07

Stormy Monday ("Big" Joe Turner)



(fotografia de Big Joe Turner)

Depois do grito sussurrado de Hank Mobley, vale sempre a pena ouvir uma voz possante. Uma voz que gire, uma voz que entorne a sua alma na nossa pele. Essa voz (há muitas vozes dessas) poderia ser Billie Holiday, a "Lady Day" dos sonhos de Lester Young. Poderia ser Ella Fitzgerald, Nina Simone ou mesmo aqueles velhinhos clássicos dos blues que ainda rodavam a 78 rotações por minuto. Poderia ser o Velho Delta a voltar da sua longa estadia no limbo do Mississippi, desafiando o Diabo com um solo de guitarra.

Optámos por Big Joe Turner, um dos mais conhecidos bluesman do pós-guerra. Não será porventura o nosso favorito. Nessa honra, estariam Muddy Waters, John Lee Hooker e tantos outros saídos dos despojos do Delta para a cidade louca de Chicago. Mas, não foi em Chicago que Big Joe Turner nasceu. Ele veio ao mundo na cidade de Kansas City, estado do Kansas. Começou a ficar conhecido quando tocou no Carnegie Hall, acompanhado de Pete Johnson. Nesse mesmo dia, também lá tocaram Count Basie, The Golden Gate Quartet, Big Bill Broonzy e Sonny Terry. Contudo, foi só depois de 1950, que se transformou num artista popular. É da sua autoria a canção, "Shake, Rattle & Roll", de 1954, que viria a ser cantada por Bill Haley.

Este álbum, Stormy Monday, é o resultado de uma série de sessões que ele gravou para a editora Pablo. É um disco muito interessante e conta com a participação de outros músicos de grande qualidade: o grande Pee Wee Crayton, infelizmente muito pouco conhecido, Roy Elridge, o mestre Dizzy Gillespie, Clark Terry, entre outros. Recomendado.

Big Joe Turner, "Shake, Rattle & Roll", a seguir:



a biografia de Big Joe Turner aqui.



(imagem do álbum Stormy Monday, de Big Joe Turner)

Jorge Vicente

Roll Call (Hank Mobley)



(fotografia de Hank Mobley)

Só pela qualidade dos músicos, se vê bem que este disco vale a pena. Art Blakey, o tal dos Jazz Messengers e um dos melhores bateristas de jazz de todos os tempos; Freddie Hubbard, um mestre no trompete e que seguia a tradição jazzística de Lee Morgan e Clifford Brown; Paul Chambers, no baixo e um dos primeiros a criar verdadeiras preciosidades no contrabaixo, através dos seus solos extremamente criativos; Wynton Kelly no piano e, como líder do quinteto, Hank Mobley, no saxofone. Mobley é, possivelmente, um dos menos conhecidos no quinteto, mas penso que isso não interessa. Qualquer um deles é um mestre na verdadeira acepção da palavra. Jazz no seu estado puro.

Este álbum, Roll Call, é de 1960.

Deixo-vos agora um tema de um outro álbum de Hank Mobley, Another Workout, do Youtube. O tema é "I Should Care".



A biografia de Hank Mobley aqui



(imagem do álbum Roll Call, de Hank Mobley)

Já agora, a opinião de Freddie Hubbard sobre o disco:

"I thing it was my best date so far. Everything had a nice feeling. I was glad to be there - I learned a lot about how to swing just being there. I felt so much freer than I ever had before in a recording studio and that's because it's so easy to play with the kind of talent of the guys on the date. And we had just about the best rhythm section there is - Blakey, um ah, yes! He fills up the whole studio. He makes you open up - he made everybody open up".

"One thing about Hank, he sure plays relaxed. Hank's my favorite tenor player. He plays very fluently. He's very mature in his playing. I think he's very underrated".
(retirado do booklet de Roll Call)

Jorge Vicente

21.11.07

Instinto e Inteligência (Allan Kardec)



(fotografia de Gustave Le Gray, "La table de l'empereur", 1857)

"73. O instinto é independente da inteligência?
«Não precisamente, porque se trata de uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência sem raciocínio; é através dele que todos os seres provêem às suas necessidades»" (1)

Allan Kardec




(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 74.

20.11.07

"Generation Landslide" (Alice Cooper / Michael Bruce / Dennis Dunaway / Neal Smith / Glen Buxton)



(fotografia de Ilse Bing, "Homeless Man Sleeping", 1932)

"Please clean your plate, dear.
The Lord above can see ya.
Don't you know people are starving in Korea?
Alcohol and razor blades and poison and needles,
Kindergarten people - they use 'em, the need 'em.
The over indulgent machines were their children.
There wasn't a way down on Earth here to cool 'em,
'Cause they look just like humans at Kresges and Woolworths.
But decadent brains were at work to destroy.
Brats in battalions were ruling the streets,
Sayin' generation landslide closed the gap between 'em.

And I laugh to myself at the men and the ladies
Who never conceived of us billion dollar babies.

Militant mothers hiding in their basement
Using pots and pans as their shields and their helmets.
Molotov milk bottles heaved from pink high chairs,
While Mothers' Lib burns birth certificate papers.
Dad gets his allowance from his sonny, the dealer,
Who's pubic to the world but involved in high finance.
Sister's out 'til five doing banker's son's hours.
But she owns a Maserati that's a gift from his father.
Stopped at full speed at one hundred miles per hour.
The Colgate invisible shield finally got 'em.

And I laugh to myself at the men and the ladies
Who never conceived of us billion dollar babies." (1)

ALICE COOPER






(1) retirado do CD de Alice Cooper, Billion Dollar Babies, 1973.

16.11.07

A criação do mundo (Allan Kardec)



(litografia de Alexandre Calamé, 1850)

"37. O universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus?
«Sem dúvida que não pôde fazer-se a si próprio e se, como Deus, existisse de
toda a eternidade, não seria obra de Deus


. A razão diz-nos que não pôde fazer-se a si próprio e que, não podendo também ser obra do acaso, tem de ser obra de Deus." (1)




(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 62.


Segundo a minha opinião, a Criação nunca existiu, mesmo se considerarmos o acontecimento do Big Bang como um fenómeno criacionista. O Big Bang foi apenas o desmoronar de um outro Universo que terminou, dando início a um outro: o nosso. Deus é apenas o que se mantém em todos os Universos: o Ser, a Essência, a Natureza.

Jorge Vicente

15.11.07

Freedom Meditation Music, Vol. III (Valerio Cosi)



(fotografia de Valerio Cosi com Family Battle Snake)

Há discos em que habitamos apenas num certo período da nossa vida, muito específico, numa temporalidade bastante limitada. Vários dias, uma hora, trinta e cinco minutos, dez segundos. Apenas o tempo ideal para nos marcarmos e acertarmos o ritmo do disco ao nosso.

No disco de Valerio Cosi, Freedom Meditation Music, Vol. III, a primeira sensação que tive foi a de uma viagem de comboio. Depois de um período inicial minimalista, pareceu-me ouvir um batuque quase de comboio, quase que a anunciar a chegada a algum lugar. Essa música inicial chama-se: "Little Hymns to the African Glory: 1) Chumbani Mule" e, apenas pelo título, presumo que a chegada foi algures em África, com o ritmo dos batuques e a rigidez fria do saxofone a dominar o espaço. Na segunda música, África continua lá, através de um cântico (milenar?) acompanhado por saxofone e (penso que) órgão. Muito interessante.

Claro que nem tudo o que o disco nos oferece nós aceitamos. A 5ª oferenda musical, "You Can't Pretend to Be Someone" é uma cacofonia e o nosso ouvido afasta-se um pouco, e não gostei quase nada de se misturar momentos melódicos bastante bonitos com partes quase inaudíveis. Por vezes, parecia que não havia (ou não devia haver) meio-termo. E o caminho do meio é essencial.

Já "Blue Green Journeys" é maravilhosa. Uma espécie de meditação jazzística, bastante free e espiritualmente elevada. Aliás, o poder dos instrumentos indianos é incontestável, mesmo que não estejamos a ouvir música clássica indiana. É algo que é intrínseco aos próprios objectos, faz parte deles, pertence-lhes.

Recomendado!

De seguida, uma pequena amostragem da arte de Valerio Cosi, numa actuação ao vivo em Ravenna, no Festival della Palude, conjuntamente com Family Battle Snake e Enzo Franchini:



O myspace de Valerio Cosi aqui
O website de Valerio Cosi aqui

Jorge Vicente

14.11.07

"Wuthering Heights" (Kate Bush)



(imagem do filme Wuthering Heights, de William Wyler, com Laurence Olivier e Merle Oberon)

"Out on the wiley, windy moors
We'd roll and fall in green.
You had a temper like my jealousy
Too hot, too greedy.
How could you leave me,
When I needed to possess you?
I hated you. I loved you, too.

Bad dreams in the night
You told me I was going to lose the fight,
Leave behind my wuthering, wuthering
Wuthering Heights.

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I´m so cold,
let me in-a-your window

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I´m so cold,
let me in-a-your window.

Ooh, it gets dark! It gets lonely,
On the other side from you.
I pine a lot. I find the lot
Falls through without you.
I'm coming back, love,
Cruel Heathcliff, my one dream,
My only master.

Too long I roamed in the night.
I'm coming back to his side, to put it right.
I'm coming home to wuthering, wuthering,
Wuthering Heights,

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I'm so cold,
let me in-a-your window.

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I'm so cold,
let me in-a-your window.

Ooh! Let me have it.
Let me grab your soul away.
Ooh! Let me have it.
Let me grab your soul away.
You know it's me--Cathy!

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I´m so cold,
let me in-a-your window
Heathcliff, it's me, Cathy, I've come home. I´m so cold,
let me in-a-your window.

Heathcliff, it's me, your Cathy, I've come home. I'm so cold." (1)

KATE BUSH





(1) retirado do CD de Kate Bush, The Kick Inside, de 1978

Pink (Boris)



(flyer dos Boris, para um concerto)

Já aqui tinha falado nos Boris, se não me engano em Agosto deste ano. Na altura, não me atrevi a me debruçar muito sobre a banda. Nem me atrevo agora: apenas singelas palavras que consigam descrever, no mínimo, o que a banda faz. Ora bem: os Boris são um trio de músicos japoneses que praticam uma espécie de rock alternativo de vanguarda. Não têm uma direcção musical explícita, pois são muito flexíveis nas suas escolhas musicais. Tanto podem lançar um disco de pura loucura sonora, a fazer lembrar um punk desalinhado, sujo, cheio de garra, como algo mais calmo, minimalista e drone (o álbum Altar, com os Sunn O))), é um belo exemplo). No site da allmusic.com, fazem, aliás, uma comparação bastante interessante dos Boris com os MC5, mas numa era Sunn O))). No mínimo, é revelador, apesar de eu achar que os Boris são tudo menos drone.

Tal estética musical está bem vincada no álbum Pink, de 2006. Não sei se é o melhor álbum da banda, se é o pior. Não interessa. Aliás, acho que em música não interessa adoptar critérios estanques de apreciação técnica, mas sim critérios emotivos. E este álbum "rocks like hell".

O myspace dos Boris aqui
O site dos Boris aqui
A biografia da banda aqui

De seguida, no youtube, a canção "Farewell", tocada ao vivo em Outubro deste ano. O "embedding" foi desactivado.

Jorge Vicente

13.11.07

"Forget It's a Mystery" (Lisa Germano / Paul Mahern)



(fotografia de E. J. Bellocq, "Untitled", 1912)

"I hate you cause I love you
I need you cause I want to
Forget it it's a mystery
And i'm a little worried

I hurt so deep when you resist
Can't feel a thing except how much
I hate you cause i love you
An irritating sucker

I'm talking about myself, see
I'm manic since you made me
I know you like perfection
Variety, erections.

I love you cause I hate me
Oblivious and hurting
Emotionally stuck here
An irritating sucker

Do you remember last year when you caught it
Some lie 'bout stress and I ate it
I don't want to hate you
I really want to love you
I liked it when you hurt me
Forget it it's a mystery" (1)

LISA GERMANO




(1) retirado do CD de Lisa Germano, Excerpts from a Love Circus, de 1996

Sabe bem ouvi-la, saboreá-la, tactear as suas palavras, a voz, a serenidade da voz. Apesar de nelas raiar uma certa tristeza.

De seguida, apresento-vos "We Suck" de Lisa Germano, uma canção, também ela, muito bonita.



Jorge Vicente

The C.O.M.A. Imprint (Candiria)



(imagens de um "poster" dos Candiria)

Os Candiria são uma incógnita. Se, por um lado, mantêm a estrutura básica do hardcore, por outro lado, vão muito para além dele, inserindo na sua música elementos de hip hop, jazz e tudo o que vier à mão. Muitas bandas já fizeram isso, é certo, mas muitas dessas bandas não inovaram, inseriram apenas uma coisinha aqui, outra coisinha ali. Não criaram uma banda híbrida, onde o que sobressai é uma amálgama de sons bastante interessante.

De todas as músicas do álbum The C.O.M.A. Imprint (um dos que ouvi), ressalto uma que me parece uma das mais inovadoras: "Pull this Strip and Fold Here", que está no myspace da banda, na secção vídeos. Quem pertencer ao myspace, pode clicar aqui

Ou, então, ir directamente ao myspace da banda aqui

Jorge Vicente

"Lady Jane" (Mick Jagger / Keith Richards)



(fotografia de Manuel Alvarez Bravo, "Portrait of the Eternal", 1935)

"My sweet Lady Jane
When I see you again
Your servant am I
And will humbly remain
Just heed this plea my love
On bended knees my love
I pledge myself to Lady Jane

My dear Lady Anne
I've done what I can
I must take my leave
For promised I am
This play is run my love
Your time has come my love
I've pledged my troth to Lady Jane

Oh my sweet Marie
I wait at your ease
The sands have run out
For your lady and me
Wedlock is nigh my love
Her station's right my love
Life is secure with Lady Jane" (1)

THE ROLLING STONES






(1) retirado do CD dos Rolling Stones, Flowers, de 1967

Uncle's Paradise / Ojisan Tengoku (Shinji Imaoka)



(imagem de Uncle's Paradise)

O pink cinema é um dos géneros centrais da cinematografia nipónica. Apesar do seu sucesso se dever muito ao erotismo e ao sexo, este género de filmes é único na medida em que, muitas das vezes, realizadores consagrados se apropriaram das suas regras para realizarem obras verdadeiramente experimentais. Posso mencionar realizadores como Koji Wakamatsu (Kabe no naka no himegoto, vencedor do Urso de Prata em Berlin, 1965), Takahisa Zeze (Moon Child, 2003), Kiyoshi Kurosawa (Akarui Mirai, nomeado para a Palma de Ouro de Cannes, em 2003), etc. As principais características do pink cinema são:

- devem ser filmados em 35mm para serem apresentados em salas de cinema alternativas;
- não podem apresentar imagens de genitais masculinos ou femininos;
- não podem apresentar relações sexuais completas;
- devem ter em média uma hora de duração;
- devem conter, pelo menos, 3 cenas sexuais. (fonte: brochura do festival Número Projecta).



(outra imagem de Uncle's Paradise)


O filme que eu vi, Uncle's Paradise é um desses filmes. Narra a história de Takashi, um autêntico lobo sexual que recusa dormir em virtude de estar sempre a sonhar a mesma coisa: fazer sexo com uma morta. As cenas são, na maior parte das vezes, completamente bizarras e estranhas e, mesmo sabendo das limitações e forças do pink cinema, acho que se abusou do sexual e do do corpo. Mas, foi uma experiência nova e a certeza de que a requalificação do cinema erótico (e, porque não, também do cinema para adultos) passa muito por aqui, pela experimentação e não pela triste figura a que chegou este tipo de cinema, que recorre cada vez mais ao bas-fond artístico.

Jorge Vicente

12.11.07

One Inch Masters (Gas Huffer)



(um poster de um concerto dos Gas Huffer)

O punk não é, certamente, da preferência de todos os bloggers, mas ninguém pode duvidar da sua importância cultural e sociológica. Já o mesmo não se pode dizer do fenómeno grunge, que teve o seu momento de auge no início dos anos 90, através dos Nirvana e dos Pearl Jam. Digo isto porque muitas gerações tendem a assimilar aquilo que viveram na juventude e a fechar os olhos ao que vem depois. Tal é um facto natural, fruto das vivências e daquilo em que se acredita.

Ora, os Gas Huffer apareceram justamente no início dos anos 90, época de muitas revoluções musicais e uma das idades de ouro do rock alternativo. Formados em Seattle (também ela uma cidade histórica musicalmente) em 1989, fazem a ponte entre o punk e um rock mais alternativo. Só que, enquanto uns, assumidamente punk, como os Nirvana, apostavam numa sonoridade mais directa, outros eram particularmente influenciados pelo hard rock dos anos 70: o caso dos Pearl Jam. Em relação aos Gas Huffer parecem-me muito mais uma mescla de punk com um atitude de festa, pelo menos em relação ao álbum que eu ouvi, One Inch Masters, de 1994. Outros chamaram-lhes rockabilly punk, mas nunca percebi muito bem o que realmente isso quer dizer. Seja como for, é um bom disco, forte e bastante bom. Apesar de esquecido nos anais da música moderna.

Jorge Vicente

Os Gas Huffer na wikipedia aqui
o vídeo "Crooked Bird" dos Gas Huffer aqui
o vídeo "More of Everything" aqui

O sobrenatural não existe



(fotografia de Minor White, "Pacific, Devil's Slide", California, 1947)

"As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corporal estão na ordem natural das coisas e não constituem qualquer facto sobrenatural; é por isso que delas encontramos vestígios entre todos os povos e entre todas as épocas; hoje, generalizaram-se e tornaram-se patentes para todos" (1)

ALLAN KARDEC




(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 45.

10.11.07

L. P. Hartley



(fotografia de Max Waldman, "Marat/Sade", 1966)

"After the musical hazards of the evening, the boss shots, the successes snatched from the jaws of failure, the anxiety for myself and other, it was bliss to listen to that lovely voice extolling the joys of home. I thought of my home, and how I should return to it after pleasures and palaces; and I thought of Marian's and how innapropriate to it the epithet humble was. She sang with so much feeling: did she really long for peace of mind in a thatched cottage? It didn't make sense to me" (1)

L.P. Hartley




(1) HARTLEY, L.P. - The Go-Between. 2ªed. Oxford: Heinemann New Windmills, 1985. ISBN 0-435-12299-1. p.159.

"Angels Ever Bright and Fair" (Georg Friedrich Handel)



(fotografia de Jerry Uelsmann, "Untitled", 1975)

"Angels! Ever bright and fair,
take, oh take me to your care.
Speed to your own courts my flight
clad in robes of virgin white
clad in robes of virgin white"

Georg Friedrich Handel


P.S. Não sei em que obra de Handel está este cântico, encontrei-a por acaso, citada por L.P. Hartley, no seu livro The Go-Between.

Jorge Vicente

9.11.07

Loucura e Espiritismo



(fotografia de W. Eugene Smith, "KKK, North Carolina - Crowd in robes around burning cross", 1951)

"Nos trabalhos corporais, estropiam-se os braços e as pernas, que são os instrumentos da acção material; nos trabalhos da inteligência, estropia-se o cérebro, que é o do pensamento. Mas, lá por se quebrar o instrumento, isso não quer dizer que o mesmo aconteça ao Espírito; este permanece intacto. E, quando se liberta da matéria, continua a gozar da plenitude das suas faculdades. No seu género é, como homem, um mártir do trabalho.

Todas as grandes preocupações do Espírito podem ocasionar a loucura: as ciências, as artes e até a religião são pródigas nessas ocorrências. A loucura tem como causa primária uma predisposição orgânica do cérebro, que o torna mais ou menos acessível a certas impressões. Dada a predisposição para a loucura, esta tomará o carácter de preocupação principal, tornando-se então uma ideia fixa. Esta ideia fixa pode ser tanto a dos Espíritos - em pessoas que se dedicam ao seu estudo -, como a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. Provavelmente, o louco religioso ter-se-ia tornado um louco espírita, se o espiritismo fosse a sua preocupação dominante, do mesmo modo que o louco espírita o seria sob outra forma, de acordo com as circunstâncias.

Digo então que o espiritismo não tem privilégio algum a esse respeito. Vou mesmo mais longe: bem compreendido, acaba por revelar-se uma protecção contra a loucura."(1)

Allan Kardec





(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p.38, 39.

1.11.07

Revolução científica?



(fotografia de Bernard Faucon, "Le Vrai et le Faux", retirado de www.bernardfaucon.net)

"Quando surge um facto novo, que não tem qualquer relação com uma ciência conhecida, o sábio, para o poder estudar, terá de abstrair da sua ciência, dizendo a si próprio que se trata de um estudo novo e que não pode ser feito com ideias preconcebidas" (1)

Allan Kardec



(1)KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p.28.