30.10.07

The Art of Self-Defense (High on Fire)



(fotografia de Matt Pike, tirada por Bridget Christian. Retirado do myspace da banda)

Os High on Fire são uma grande banda. Partindo dos restos dos extintos Sleep, Matt Pike decide formar uma nova banda, mais agressiva do que os Sleep, mas ainda manifestamente stoner e metaleira. O trabalho de guitarra continua a ser assombroso, a fazer lembrar os Black Sabbath e Tommy Iommi. A nível vocal, remetem para os Motorhead. A elevada quantidade de ácidos tomados continua a ser uma regra a ser cumprida. Afinal de contas, estamos a falar de uma banda stoner!. Em resumo: um autêntico festival psicadélico e satânico!!!

Membros da banda:

Matt Pike, guitarrista e vocalista (ex: Sleep, Kalas e Asbestos Death)
Des Kensel, bateria
George Rice, baixo (ex: Dear Deceased e agora nos Watch Them Die)

O álbum The Art of Self-Defense é o seu primeiro álbum e data de 2000.

um dia na feitura de um álbum dos High on Fire aqui
o episódio 2 da feitura do disco aqui
o episódio 3 aqui
o episódio 4 aqui
o episódio 5 aqui

Os High on Fire no myspace aqui

Jorge Vicente

28.10.07

Um Toque de Canela / A Touch of Spice (Tassos Boulmetis)



(imagem do filme Um Toque de Canela / A Touch of Spice, de 2003)

Istambul, a mais bela das cidades, a antiga Constantinopla, é o palco desta maravilhosa história de auto-conhecimento (e de auto-redescoberta). Neste filme de Tassos Boulmetis, Georges Corraface desempenha o papel de Fanis, um jovem grego que vive com a família em Istambul. O seu relacionamento mais forte dá-se com o avô, Vassilis, que tem uma mercearia e que lhe ensina os segredos das especiarias e da culinária.

Diz-se que a palavra gastrónomo (gastronomos) rima com a palavra astrónomo (astronomos) e que, por isso, o astrónomo é um cozinheiro dos céus. Foram esses um dos inúmeros ensinamentos que Vassilis transmitiu ao seu neto o que fez com que, ao longo da vida, Fanis desenvolvesse um faro especial para a confecção de pratos magníficos, a par com uma paixão muito especial pela astronomia. Mas, infelizmente, nem tudo o que a vida nos oferece nos agrada e a família de Fanis, excepto o avô, é obrigada a regressar à Grécia, devido aos graves incidentes no Chipre no início dos anos 60.

Fanis passa mais de 30 anos sem ver o avô. Ambos adiam sempre uma viagem. Vassilis não quer deixar Istambul, a mais bela das cidades; Fanis, agora professor de astrofísica numa Universidade grega, tem medo de regressar e confrontar-se com o seu passado. Mas regressa, a súbita doença do avô chama-o e existe a possibilidade de voltar a ver o seu antigo amor, Saime.

Aconselho todoas as pessoas a verem este filme. Faz crescer, cria emoções e ensina-nos como o verdadeiro cinema deve ser.

Jorge Vicente

26.10.07

O Fio da Vida / Strings (Anders Ronnow Klarlund)



(imagem do filme de Anders Ronnow Klarlund, O Fio da Vida / Strings)

Nós temos a sensação de, por vezes, estarmos a ser puxados do alto do céu, como se uma força exterior a nós, anterior à própria noção de espaço e de tempo, nos guiasse ao longo da nossa vida. Essa ligação não é material, embora, por vezes, assim o pareça. Somos uma espécie de marioneta no comboio da existência, que ora se atrasa, ora se distancia por entre os vários caminhos que escolhe.

O filme de Anders Ronnow Klarlund, jovem realizador dinamarquês, assume essa simbólica e cria um mundo de fantasia onde cada personagem é movida literalmente por fios físicos que escorregam do céu. Escusado será dizer que se trata de um filme de marionetas, muito bem feito e engendrado e onde a principal vantagem consiste nessa mesma simbologia do fio da vida, que é uma ligação ao divino, e ao qual não podemos escapar. Ou podemos?

Jorge Vicente

"Live With Me" (Mick Jagger / Keith Richards)



(fotografia de Stephen Shore, "Yucatan, Mexico", 1990)

"I've got nasty habits
I take tea at three
And the meat I eat for dinner
Must be hung up for a week
My best friend he shoots waters rats
And feed them to his geese
Don-cha think there's a place for you
In between the sheets?

Come on now honey, we can built a home for three
Come on now honey, don't you want to live with me?

And there's a score of hare-brained children
There are a-locked in the nursery
They got ear-phone heads
They got dirty necks
They're so tweentieth century
Well, they queue up for bathroom round about 7.35
But don-cha think we need a woman's touch
to make it come alive?

You'd look good pram pushing down the High Street
Come on now honey, don't you want to live with me?

On the servants they're so helpful dear!
The cook she is a whore
the butler has a place for her
Behind the pantry door
The maid, she's French, she's got no sense
She's from Crazy Horse
And when she strips, the chauffeur flips
The footman's eyes get crossed

Don-cha think there's a place for us
Right across the street?
Don-cha you think there's a place for you
In between the sheets?

Don-cha you think there's a place for you
Come on live with me"

GIRLSCHOOL

(retirado do CD das Girlschool, Screaming Blue Murder, de 1982. Esta é uma versão do clássico dos Rolling Stones, de 1969)

As Girlschool no youtube, cantando ao vivo, "Screaming Blue Murder, aqui

25.10.07

Um Milagre de Natal / Noel (Chazz Palminteri)



(Alan Alda e Paul Walker, em Noel)

Apesar das opiniões institucionalizadas de algums críticos de renome, que preferem o chamado cinema de autor ao cinema popular, sabe bem, de vez em quando, ver um filme que nos aqueça a alma. O pior é que, para algumas pessoas, esse aquecimento da alma equivale a uma diminuição das faculdades mentais pelo que fogem a sete pés de filmes sentimentais e emotivos.

Um Milagre de Natal (Noel, no título original) é um filme emotivo. Que nos aquece a alma. E é um filme de Natal, embora sem o Pai Natal, o Menino Jesus, as ruas enfeitadas, com bonecos de neve encostando a nariz à porta, saboreando alguma castanha acabadinha de fazer. É, acima de tudo, um filme sobre a mudança de vida, sobre os pequenos milagres que um simples dia pode fazer. Esse dia poderia ser o Natal, o dia de aniversário de alguém que já partiu, o dia do primeiro encontro.

Neste filme, três histórias são contadas:

a história de Rose, divorciada, que vive para ajudar a mãe, internada com Alzheimer. Passa a vida no hospital.

a história de Mike e Nina, que planeiam casar-se, mas cuja relação está em vias de terminar por causa do ciúme. E, ainda por cima, Mike é perseguido por um empregado de café que julga que ele é a reencarnação da sua antiga mulher, que faleceu.

história de Jules, que se mutila para ser internado no hospital, o sítio onde ele passou o único Natal decente em toda a sua vida, aos 12 anos.

Resumindo: é um filme de Natal, um pequeno filme, um pequeno grande filme que nos ensina que podemos mudar a nossa vida, sempre que quisermos. E que devemos aprender com as pequenas grandes lições que todos os dias passam e nos acompanham quando respiramos e nos deitamos; quando passeamos pela rua e saboreamos o doce alvorecer do sol de manhã. Como disse Wellington Enguer, facilitador de Biodanza, "não basta sermos pessoas inteligentes e admiradas; é necessário sermos pessoas humanas e amadas" (fonte: http://www.toknatural.com.br/reflexoes.htm). E o amor, o perdão, a entrega, e o dar/receber são a base do Natal.

Jorge Vicente

A alma segundo Allan Kardec



(fotografia de Cindy Sherman, "Untitled Film Still #56", 1980)

"Segundo alguns, a alma é o princípio da vida material orgânica; não tem existência própria e cessa com a vida: é o materialismo puro. Nesse sentido, e em comparação, diz-se de um instrumento rachado, que deixou de emitir sons, que já não tem alma. Segundo esta opinião, a alma seria um efeito e não uma causa.

Há outros que pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma certa porção. Segundo estes, haveria em todo o Universo apenas uma única alma, distribuidora de centelhas pelos diversos seres inteligentes durante toda a sua vida. Após a morte, cada centelha regressa à fonte comum onde se confunde no todo, tal como os regatos e os rios voltam ao mar de onde saíram. Esta opinião difere da precedente, no sentido em que, tendo em conta a hipótese lançada, há em nós mais do que matéria, subsistindo alguma coisa após a morte. Contudo, é quase como se nada subsistisse; isto porque, destituídos de individualidade, deixaríamos de ter consciência de nós próprios. Nesta acepção, Deus seria a alma universal, sendo cada ser uma parcela da Divindade. Estaríamos perante uma variante do panteísmo.

Finalmente, segundo outros, a alma é um ser moral, distinto e independente da matéria, que conserva a sua individualidade após a morte. Esta acepção é, incontestavelmente, a mais geral. Efectivamente, sob uma ou sob outra designação, a ideia de um ser que sobrevive ao corpo encontra-se em todos os povos num estado de crença instintiva e independente de qualquer ensinamento. A esta doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, damos o nome de espiritualismo.

Sem discutir o mérito de tais opiniões, e considerando apenas o lado linguístico da questão, diremos que estas três aplicações da palavra alma constituem três ideias distintas, que necessitariam de um termo diferente para cada uma. Portanto, esta palavra tem uma tripla acepção; do seu ponto de vista, todos têm razão na definição por que optam. O defeito está na língua, por possuir apenas uma palavra para exprimir três ideias. A fim de evitar qualquer equívoco, seria necessário restringir a acepção do termo alma a uma daquelas três ideias. A escolha é indiferente; o essencial é que todos se entendam, sendo necessário para o efeito o estabelecimento de convenções. Julgamos mais lógico tomá-lo na sua mais vulgar acepção; assim, temos por ALMA o ser imaterial que reside em nós e que sobrevive ao corpo". (1)

Allan Kardec



(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p.12, 13

24.10.07

Complete Recorded Works in Chronological Order Vol. 2: 1927 (Blind Lemon Jefferson)



(fotografia de Blind Lemon Jefferson)

E se, de repente, algum estranho viesse ter convosco e os convidasse para um passeio no Delta? Saboreando as mesmas águas que o furacão Katrina arrebatou há alguns anos atrás, entrando naquelas pequenas casas de madeira onde, diz-se, o blues nasceu, com o signo dos velhos espirituais negros ecoando em cada campo de algodão?

E se, de repente, o grande rio desembocasse no mar e adormecesse os cordões de música que pairam um pouco pelo Sul dos Estados Unidos, com o fantasma do Klan entrando paredes dentro com a espiritualidade negra?

Blind Lemon Jefferson é tudo isso, apesar de ter nascido no Texas. Mas, para mim, a dimensão geográfica não interessa. Pelo menos, no caso do Delta. A influência do Mississippi na cultura musical dos Estados Unidos é imensa e o blues que ficou, tradicionalmente, associado ao Rio, ao Grande Rio ("Misi-ziibi", segundo a língua ojibwe) não é necessariamente pertença apenas do Mississipi ou da Louisiana, apesar dos grandes nomes serem originários de lá. Posso fazer referência a: Robert Johnson (o guitarrista que vendeu a alma ao diabo para tocar como tocava), Charley Patton, Muddy Waters, John Lee Hooker e tantos outros, que foram mestres do Delta. E souberam cantá-lo. E tocá-lo como ninguém.

Blind Lemon Jefferson não foi apenas mais um. É um dos mestres originais do blues. A ouvir com atenção e carinho.

Blind Lemon Jefferson no youtube aqui

Blind Lemon Jefferson no wikipedia aqui

Jorge Vicente

23.10.07

Esta é a Lei (Allan Kardec)



(fotografia de Sebastião Salgado, "Refugees in the Korem Camp", Ethiopia, 1984")

"Nascer, viver, morrer;
renascer ainda e progredir continuamente.
Esta é a lei."

Allan Kardec (1804-1869)




(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p.9

22.10.07

The Aristocrats (Paul Provenza)



(Gilbert Gottfried a contar a anedota "The Aristocrats", no filme The Aristocrats, de Paul Provenza)

Nunca imaginaria que, nestes últimos dias, o meu blog tivesse crescido tanto e tanto. Provavelmente, não a nível dos leitores ou dos meros observadores das minhas palavras, mas a nível da necessidade (ou não) de escrever. De facto, tenho escrito sobre tudo: música, citações de livros, um conto/romance que estou a escrever, filmes, etc. A nível da música e do cinema, a obrigação é a de que o filme ou a música estejam inseridos numa corrente alternativa (sort of). De facto, qual o interesse em comentar o último sucesso saído de Hollywood, quando meio mundo já o fez?

Mas, estaria longe de imaginar escrever sobre um documentário que focasse a anedota mais nojenta e asquerosa que já alguma vez ouvi. Essa anedota chama-se "The Aristocrats" e é contada pelos cómicos norte-americanos entre si. É uma espécie de morango no cimo do bolo e, normalmente, o público não a ouve, apesar de, algumas vezes, vir para a praça pública. Quanto à anedota em si, não vale nada. Começa assim: "Um sujeito vai a uma audição e diz ao agente: tenho um número que lhe queria mostrar. Então, mostre". O número contém, invariavelmente, cenas de sexo, pedofilia, incesto, escatologia, restos de corpos a boiar, muito sangue e violência. O que muda é o estilo do comediante e aquilo que ele decide pôr no meio da anedota. De facto, apenas o princípio e o fim da anedota são fixos. O meio é pura improvisação. O cómico diz aquilo que lhe apetece, desde que tenha os pontos mencionados: sexo, escatologia, violência, etc, tudo de maneira literal e obscena. O fim da anedota é o seguinte: "Então como se chama o número? The Aristocrats".

Pessoalmente, não me sentia à vontade em chafurdar na lama e contar a anedota se ela fosse só isso: um monte de porcaria. Cada cómico pode incluir o que quiser. Eu incluiria um pouco de Benjamin Peret. Não, um pouco não. Incluiria o espírito completo de Benjamin Peret, possivelmente um dos escritores mais subversivos de sempre. Afinal de contas, foi ele que escreveu Os Tomates Enlatados ou os Colhões Enraivecidos.

Jorge Vicente

És Criador ou Repetidor (Luís Martins Simões)




És Criador ou Repetidor é o terceiro livro de Luís Martins Simões, uma referência no panorama dos livros de desenvolvimento pessoal portugueses. Nesta obra, ele oferece aos seus leitores uma visão muito própria do ensino, do modo como a sociedade está organizada, do poder da atenção e da importância cada vez maior do nosso poder criador, bastante subaproveitado por todas as gerações de humanos que já pisaram o nosso planeta. O público-alvo são os adolescentes e os jovens em geral, pelo que o discurso é mais informal e bem-disposto.

É um livro bastante interessante, algumas coisas (a maioria) concordo, outras que nem por isso. Ou, pelo menos, caio no mesmo erro de toda a gente, que se limita a ser repetidora e não acreditar nas infinitas possibilidades de criação que tem. É o livro ideal para quem não tem pachorra para as lições doutrinárias do livro O Segredo de Rhonda Byrne, ou ainda não descobriu a vertente mais científica, mas mais interessante, de Deepak Chopra.

Jorge Vicente

21.10.07

Attention (Septic Death)



(imagem dos Septic Death)

Depois de restabelecido da paisagem sonora que os Low me proporcionaram, decidi abrir-me ao mundo (mais uma vez) e ver que novas o mundo me dava. Fui visitar a Feira de Banda Desenhada da Amadora e petiscar um pouco dos inúmeros volumes e exposições que lá se encontravam. A Feira foi muito boa, consegui encontrar um livro da Chili com Carne!!!, uma das editoras de BD mais inovadoras no nosso país. Fiquei em êxtase.

Quando regressei a casa, só me restava ouvir um pouco de hardcore punk para me trazer completamente à terra e encontrei no meio das minhas viagens digitais, os Septic Death, uma banda de hardcore completamente afastada dos cânones do mainstream. É interessante, mas para quem ouve Low e adormece no meio de uma paisagem de flores, talvez seja abusivo estragar a noite com uma dose de raiva exacerbada. E os Septic Death são isso, raiva e mais raiva. Fica para depois.

Septic Death no youtube

o site dos Septic Death aqui

Jorge Vicente

Trust (Low)



(imagem de um concerto dos Low, retirado do site da banda)

existe tão-só um pequeno lugar na música onde o nosso ser interior absorve a paisagem e a beija. um lugar onde cada voz é como uma flor cujo pólen fosse lentamente rodopiando e rodopiando e onde a névoa fosse o pólen das flores chamando-nos para uma realidade outra

os Low fazem isso na maioria dos seus discos. é a paisagem americana vista como uma brisa, como um sussurro, como algo interior que nos fica e nos abre por dentro dos olhos

porque a música é o espelho da alma e dos sons

os Low no youtube aqui
o site dos Low aqui

Jorge Vicente

20.10.07

Finais Felizes/Happy Endings (Don Roos)



(fotografia de Jason Ritter e Maggie Gyllenhaal, uma das almas de Happy Endings. Aqui, numa das cenas do filme)

Finais Felizes, o último filme de Don Roos, é uma teia. Uma teia de relacionamentos, emoções, posturas, desejos e paixões. Uma teia onde todas as personagens estão inter-relacionadas entre si, mesmo que não se conheçam. Uma teia onde todas as decisões tomadas, por mais pequenas que sejam, podem mudar um pouco a história de cada uma das personagens. Vejamos a personagem interpretada por Lisa Kudrow: no passado, teve um caso com o seu meio-irmão resultando daí uma gravidez não desejada e uma tentativa de aborto. Os fantasmas que resultam são muitíssimos: ela passa parte do filme a tentar encontrar o filho, sendo ajudada pelo namorado massagista e por um aspirante a realizador que não passa de um jovem solitário, mas com a mania das grandezas.

Em suma, uma comédia bem interessante, onde as personagens são reais, bem à nossa medida, cheias daqueles pequenos problemas que são a mola da existência.

Jorge Vicente

18.10.07

Julgamento (Leonel Vieira)



(Júlio César e Alexandra Lencastre em Julgamento, de Leonel Vieira)

Eu confesso. Nunca tinha apreciado devidamente a obra de Leonel Vieira. Sempre o considerei um autor menor do cinema português, demasiado comercial e bastante próximo do cinema norte-americano. Acho que eram talvez pré-conceitos de alguém que achava (acha) que o cinema português deveria apostar cada vez mais num cinema de autor que o diferenciasse dos outros tipos de cinema. Mas, também, devo ter a coragem para dizer que não vi todas as suas obras. Vi parte do filme A Selva e vi A Bomba. Bastou-me, na altura.

Ontem, fui ver o filme Julgamento e fiquei agradavelmente surpreendido. É inteligente, as interpretaçõas são muito boas, a temática faz parte de todos nós. É a história da vingança de um professor universitário que foi torturado por um agente da PIDE, quando o reencontra anos mais tarde. Uma das surpresas foi Júlio César, que conhecia, acima de tudo, do concurso Minas & Armadilhas, do Casino Estoril e do bzidróglio, um objecto estranho que era a imagem de marca de um concurso apresentado por Júlio César nos anos 80. Neste filme, ele está brilhante.

Também Alexandra Lencastre está natural, fresca e bonita, bastante diferente das imagens sofisticadas que nos apresenta nas telenovelas do povo. E, claro, Henrique Viana, que morreu pouco tempo depois do filme terminar. Para ele, a minha sincera homenagem.

Jorge Vicente

17.10.07

O hino nacional



(fotografia de Jacob Riis, "Home of an italian ragpicker", 1888)

"Observa bem a letra do nosso hino nacional. Verás o que evoca. Eu observo e não me levanto quando o tocam. Pois claro que não. E observo a raiva dos que me observam a ouvir o hino sentado. O ardor com que as pessoas cantam o hino nacional, uma canção que congrega emoções fortíssimas e que incita a tudo menos à paz, ao respeito pelo indivíduo, pelo planeta ou pela natureza, é fabulosamente interessante. O nosso hino fala de ego e de guerra.

E, claro, ensina-se nas escolas. E ai do que não se levante quando toca o hino, pois estará a faltar ao respeito ao poema do ego." (1)

Luís Martins Simões


(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 84, 85.

16.10.07

Crise de valores ou valores a mais?



(fotografia de Irving Penn, "Three Rissani Women", 1971))


"Os adultos egotistas egocêntricos dir-te-ão que hoje em dia a sociedade atravessa uma crise de valores. Eu não partilho nada desta ideia. É da repetição e do apregoar dos valores que nascem sempre as guerras. Quem apregoa valores acha que é detentor da razão e torna-se protagonista de grandes guerras. Não há crises de valores. Os valores estão a mais nesta sociedade. Temos de nos ver livres dos valores.

Pensa no que fez o Hitler. Paranóico com os valores. E o Estaline? Paranóico com os valores? Olha para toda a história que te contaram. É óptima nesse aspecto. Analisa bem de onde veio tanta guerra. Vais ver que estão lá sempre os valores. Recua. Vai até à Inquisição. Em que se baseou? Vai até aos romanos. E eles? Vai até à democracia grega, que nunca funcionou. E ela? Vai até ao Alexandre de Macedónia... E agora volta até aos dias de hoje. Vês as guerras entre religiões, e mesmo entre fanáticos. O que vês? Mais valores. Ouve os sucessivos presidentes norte-americanos a falar. Alguns deles foram e são grandes protagonistas de guerras dos nossos dias. De que falam em cada discurso oco que proferem? De valores.

A sociedade jovem não precisam de valores. Precisa de referências. E repara que não digo modelos. Porque os modelos seguem-se. E tu não queres ser mais um seguidor. Aliás, os seguidores seguem sempre ideiais, ou seja, valores.

Referências de quê? De pessoas que ponham as fragilidades no centro das suas vidas. Pessoas que não iludam, não escondam as suas fragilidades, nem as das sociedades de que fazem parte. Pessoas completas, íntegras, honestas. Não nas palavras. Na capacidade de se observarem e de não mudarem nada." (1)

Luís Martins Simões



(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 73, 74.

Saber Dizer Não



(fotografia de Gordon Parks, "Malcolm X Addressing Black Muslim Rally in Chicago", 1963)

"Se alguém te pede para fazeres alguma coisa com que não estás de acordo, diz não. Não precisas de agradar a ninguém. Fá-lo só se te sentires bem ao fazâ-lo. Não o faças só porque depois o outro te vai cobrar. Diz não, e podes também acrescentar o que sentes, mas não precisas é de falar do outro. Fala apenas de ti. Auto-estima é falares de ti e dizer não quando sentes não. É provável que o outro te chame egoísta. Mas não és egoísta por dizeres o que sentes e por dizeres não ao que não queres fazer. Tens grande auto-estima. O ego detesta a auto-estima e, por isso, as pessoas identificadas com o ego estão sempre a chamar egoístas às que têm auto-estima" (1)

Luís Martins Simões



(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 73.

15.10.07

Deverei gostar de toda a gente?



(fotografia de Lisette Model, "Running Legs", 1940-41)

"Outro exemplo de vibração não genuína: ser bonzinho e gostar de todos.

Gostar de toda a gente não faz sentido!

(...)

Gostar não tem nada a ver com amar, observar ou aceitar. Gostar é uma emoção. Amar é aceitar o outro, mas não quer dizer que gostes dele." (1)

Luís Martins Simões

(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 73.


P.S. Engraçado. Quando li esta frase do Luís Martins Simões, veio-me à memória uma frase do filme Lulu on the Bridge, do Paul Auster. Gina Gershon afirmou sobre o marido, personagem de Harvey Keitel, "I love him, but I can't live with him". Poderia querer dizer: amo-te, mas não te consigo aturar, não gosto de ti!

12.10.07

François Couperin (L'Apothéose de Lulli)



(François Couperin, retirado da britannica.com)

Em 1724, o compositor francês François Couperin decidiu fazer uma pequena homenagem ao grande violinista e compositor italiano Arcangelo Corelli. O resultado foi a belíssima peça em cravo "Le Parnasse ou l'Apothéose de Corelli". Também no mesmo ano, publicou outra Apoteose, esta dedicada a M. de Lully.

Não está explícito, mas penso que este Lully terá sido o compositor italiano naturalizado francês, Jean-Baptiste Lully (ou Giambattista Lulli), compositor oficial de Luís XIV e o responsável pela fundação da Ópera Nacional de França.

No CD da Harmonia Mundi, L'Apothéose de Lulli, podem-se ouvir estas duas peças. Os cravistas de serviço são William Christie e Christophe Rousset.

Para ouvidos menos atentos, aqui vão alguns links interessantes:

uma versão em piano de "Soeur Monique", de Couperin. O pianista é Grigory Sokolov aqui.

William Christie, cravista e maestro, a dirigir Natalie Dessay na aria de Mozart, "O Zittre Nicht", aqui.

Christophe Rousset, cravista e maestro, a dirigir Paula Rasmussen na ária da ópera Xerxes de Haendel "Crude Furie" aqui.

Jorge Vicente

11.10.07

A filosofia e a poesia



(fotografia de Clarence John Laughlin, "Possessed by the past", 1939)

"A filosofia e a poesia que te ensinam são uma verdadeira seca. Em filosofia obrigam-te a decorar o que este e aquele disseram, puro exercício de masturbação mental, de repetição e todo orientado para o passado. Quanto à poesia, obrigam-te a dissecar a poesia, para saberem o que é uma cantiga disto, uma cantiga daquilo, uma poesia disto e daquilo. Uma seca monstruosa. Mais uma vez uma masturbação do passado, mental e repetitiva. A filosofia aprende-se filosofando e não respondendo a um professor o que é que pessoas que tu nunca viste disseram nos seus acessos de raciocínio mental. A poesia aprende-se soltando o controlo e deixando as emoções expressar-se. Não decorando quem compôs o quê, onde, nem em que circunstâncias." (1)

Luís Martins Simões




(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 49.

A lei do menor esforço



(fotografia de Jacques-Henri Lartigue, "Zissou", Rouzat, 1911)

"Não conheço pessoa que tivesse chegado a grande riqueza pelo esforço. Nunca foi, nem nunca será pelo esforço do trabalho, embora assim no-lo queiram impingir nas escolas. Foi pela capacidade de criar ideias novas." (1)

Luís Martins Simões



(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 42.

O Ensino (segundo Luís Martins Simões) Parte 3



(fotografia de Lewis Hine, "Playground in Mill Village", 1909)

"Pouco espaço deixa o nosso ensino ao estudo do ser e apenas se concentra na matéria. Se o ensino funcionasse, as crianças e os jovens desejariam ir para a escola todos os dias. Ora a experiência mais comum é a de os alunos procurarem ter dores de barriga ou de dentes ou qualquer outro subterfúgio para poder faltar à escola. E a maior motivação é, sem dúvida, a da convivência com os colegas, com os amigos e amigas." (1)

Luís Martins Simões


(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes. Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 42.

1408 (Mikael Hafstrom)



(imagem do filme de Mikael Hafstrom, 1408)

Eu não sei se Stephen King terá gostado do resultado final, mas que o filme 1408, da autoria de Mikael Hafstrom é estranho e surreal, é. Pelo menos, segundo os cânones da recente cinematografia norte-americana. Parece que o realizador aproveitou as ideias veiculadas por Vincenzo Natali e aproveitou-as para um filme um pouco mais mainstream, mas igualmente inteligente e surrealista.

Mas, seja como for, não recomendo visitarem o quarto. Ele é maléfico. E pode fazer-vos mal. Mas, se tiverem pipocas na mão e um pouco de tempo para ir ao cinema, podem-se divertir um bocado.

Jorge Vicente

10.10.07

O fim da História?



(fotografia de Roy DeCarava, "Mississippi Freedom Marcher", Washington DC, 1963)

"Pela minha opinião, acho que os jovens deviam era esquecer a história. Pelo menos a que lhes contam. É a história do ego e perpetua apenas a ignorância e o ocultar da verdadeira essência de quase todos os povos desde há cerca de dez mil anos.

A história daquela a que chamamos civilização moderna não é mais do que o reforçar da noção de diferença, recompensando aquele que a venera e castigando aquele que a contesta." (1)

Luís Martins Simões



(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes.Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 40.

O Ensino (segundo Luís Martins Simões) Parte 2



(fotografia de Harry Callahan, "Eleanor and Barbara", Chicago, 1953)

"Ora bem, repara no que te ensinam sempre.

O que foi feito, descoberto, dito, no passado. Em suma, estão-se puramente nas tintas para ti, para quem és e sobretudo para o que possas aportar à humanidade. O ensino não é baseado no agora, que é o único momento do tempo em que podes criar algo de diferente relativamente ao que já existe. O ensino é quase sempre baseado no passado e atira-te para o futuro, para a carreira, para seres alguém, etc., sem sequer se deter um segundo no presente, a não ser quando o professor nota que não estás atento e te dá um castigo. Esse é dos poucos momentos em que o professor está no presente e desperdiça-o totalmente." (1)

Luís Martins Simões

(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes.Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 37, 38.

8.10.07

The Devil's Rejects (Rob Zombie)



(Sheri Moon, Sid Haig e Bill Moseley em The Devil's Rejects)

Charles Manson foi um dos maiores carniceiros da moderna história dos Estados Unidos. Nascido em 1934, liderava a família Manson, uma espécie de comuna que se formou na zona de São Francisco, por volta de 1967. (1) Segundo o que a polícia apurou, Manson ordenou aos membros da sua comunidade o assassinato de várias pessoas, uma das quais Sharon Tate, a esposa de Roman Polanski.

Toda a história destes assassinatos, a sua legenda, o que ficou nos arrabaldes da memória, influenciou toda uma geração de músicos que se diziam inspirados (?) em Manson. Creio que o filme de Rob Zombie, The Devil's Rejects, evoca muito Manson e tudo o que o rodeava. Neste filme, também há uma família que mata brutalmente as suas vítimas, todo o ambiente é retro, desde a música (southern rock no seu melhor, como Lynyrd Skynyrd e Allman Brothers Band) ao próprio estilo da obra. Uma das personagens, interpretada por Bill Moseley, tem até parecenças físicas com Manson.
Em resumo, um filme feito por alguém que adora o que faz, que adora filmes de terror e toda a envolvente cultural e estilística que (pode) anima(r) este género de filmes: o autor/compositor/cantor Rob Zombie, um dos mais prestigiados, mas também originais compositores de metal dos anos 90.

O único senão (para algumas pessoas) é que o filme é demasiado violento. Mas Rob Zombie é Rob Zombie, no concessions to the industry and good taste.

Jorge Vicente

(1) referência: Wikipedia

7.10.07

The Constant Gardener (Fernando Meirelles)



(imagem de O Fiel Jardineiro, de Fernando Meirelles)

Às vezes, não entendo porque um filme se tem de imiscuir dentro do que há de mais sagrado em nós, porque tem de nos destruir, nos sacudir e acudir violentamente ao nosso desejo de querer mudar o mundo. O Fiel Jardineiro (The Constant Gardener) faz-nos reflectir sobre a tragédia de todo um continente que morre só porque os senhores da terra não o querem ajudar.

E também fala do amor, de todo o amor. Que é uma dádiva e é a única maneira de tocar naqueles que não podem ser tocados.

Jorge Vicente

5.10.07

O Ensino (segundo Luís Martins Simões)



(fotografia de Margaret Bourke-White, "At the time of the Louisvile flood", Louisville, s/d)

"Aqueles que pretendem ou pretenderam ensinar-te ainda não perceberam ainda que ninguém está neste mundo para ensinar nada a ninguém. Quando um professor está a dar uma aula a um aluno, estão ambos a aprender. Não há um superior ao outro, não há um que sabe mais do que o outro"(1)

LUÍS MARTINS SIMÕES

(1) SIMÕES, Luís Martins - És criador ou repetidor?: para jovens e adolescentes.Carcavelos: Angelorum Novalis, 2006. ISBN 989-607-048-2. pg. 7.

4.10.07

"Tennessee Waltz" (King/Stewart")



(fotografia de Raymond Depardon, "On Va Danser"

"I was dancin' with my darlin' to the Tennessee Waltz
When an old friend I happened to see
I introduced her to my loved one
And while they were dancin'
My friend stole my sweetheart from me.

I remember the night and the Tennessee Waltz
Now I know just how much I have lost
Yes, I lost my little darlin' the night they were playing
The beautiful Tennessee Waltz."

RUBY WRIGHT
(retirado do CD Regular Gal: the King Recordings 1949-1959, editado pela Westside em 2000)



(imagem de Barney Rapp com Ruby Wright)


É um disco muito bom, apesar de algumas músicas mais básicas. Eu, pessoalmente, considero que as melhores são justamente as menos conhecidas porque menos sujeitas aos clichés da música pop dos anos 50. Para os interessados, recomendaria também Doris Day, Patti Page, a fabulosa Kay Starr e Peggy Lee.

Ruby Wright no wikipedia aqui

Jorge Vicente

3.10.07

Mãos de Luz (Barbara Ann Brennan)




Barbara Ann Brennan licenciou-se em Física, tendo posteriormente tirado um mestrado em Física Atmosférica, o que lhe possibilitou um trabalho de investigação na NASA, mais concretamente no Goddard Space Flight Center. Mais tarde, participou em inúmeros projectos ligados ao estudo do Campo de Energia Humana, projectos esses que tinham como base pressupostos científicos e materiais. Contudo, e talvez devido às suas próprias experiências enquanto criança (ela via os campos de energia à volta das árvores e dos animais, segundo é descrito no livro), ela religou-se à sua natureza espiritual e começou a estudar o fenómeno da aura de uma outra perspectiva. A sua própria teoria e experiência, apresentadas em Mãos de Luz, é o legado que ela deixou à humanidade sobre o fenómeno da aura humana.

A descrição da aura, a explicação dos chakras do corpo, as suas cores e as eventuais ligações dos chakras às doenças do corpo físico são apenas alguns dos temas presentes neste livro fantástico. Aqui, estamos longe do fenómeno new age de Rodrigo Romo e entramos num estudo aprofundado da cura por intermédio da aura humana. Quem quiser estudar mais aprofundadamente o fenómeno, recomendo também Rosalyn Bruyere, John Pierrakos, os inúmeros livros de Reiki existentes no mercado, etc.

É pena que Brennan não preveja organizar um seminário no nosso país. Seria bom.

O site da Barbara Brennan School of Healing aqui.

Jorge Vicente