2.6.08

quadro geral do estado novo



(quadro de shimon balisky, "the partizanes", 1945)

"o regime português, se considerarmos o sector não colonial, quase nunca alcançou o nível do assassínio político e das prisões em massa que eram prerrogativa do seu vizinho mais próximo. todavia, a relativa complexidade e refinamento do seu aparelho repressivo, o nível a que foi elevado no decurso de muitos decénios para fazer frente a protestos e rebeliões de tipo multíplice (greves de camponeses, trabalhadores braçais, operários, demonstrações das massas urbanas, greves de estudantes universitários, conspirações militares e civis e golpes de estado) e o seu articulado sistema de justiça política indicavam que esta «brandura» não derivava nem de uma deficiência organizativa nem tão-pouco de uma escassa incidência dos protestos. para os ambientes intelectuais estranhos ao regime e para a população em causa o terror era uma realidade sempre viva e impendente. é notável o facto de em frança, entre todos os imigrados, os operários portugueses serem considerados os mais relutantes à sindicalização.

com efeito, o caso de portugal até 1974 fornece matéria de estudo no campo da economia do terror. pode haver um coeficiente óptimo de terror que interesse a totalidade da população sem que seja necessári recorrer a um extermínio em larga escala, mas evidenciando e propagandeando ao máximo, com crueldade, a realidade desta situação." (1)

hermínio martins



(1) MARTINS, Hermínio - Classe, status e poder e outros ensaios sobre o portugal contemporâneo. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais, 1998. ISBN 972-671-051-0. p. 44, 45.

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