20.2.09

in nomine



(mouraria, retirado daqui)


"eu d'esta gloria só fico contente
que a minha terra amei, e a minha gente"

António Ferreira (8)

o meu olhar abarca todo o mural
da cidade, como se ela existisse
apenas em pedra, sem as pessoas
e sem o rumor dos mercadores,
ardendo no repasto dos seus olhos,
ávidos do sacrifício das águas
e pedindo que o país não seja
mais do que um sonho infantil.

lá em baixo, na cidade antiga,
as mulheres da vida encostam os
seios no colo da Virgem e escrevem
poemas, como se de orações fossem
feitas a frieza dos barcos, navegados
por homens e não por peixes.

o olhar da mouraria é feito do meu
olhar, o olhar do castelo na altura
do são pedro, o olhar das gentes que
se enfeitam e que descansam o sal no
coração da areia, esperando que Deus
traga a morte na próxima revolução das
ondas.

Jorge Vicente



(8) FERREIRA, António in RIBEIRO, José Silvestre – História dos estabelecimentos scientificos, litterários e artísticos de Portugal nos successivos reinados da monarquia: 5º volume. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1876. p. 295.

2 comentários:

Anónimo disse...

querido jorge, gostei muito do comentário que hoje deixaste n'a tradução. é muito bom poder contar com a tua amizade e as coisas que me tens ensinado :) fico-te grata e mando-te um abraço em amoralva.

(gostei do teu poema, urbano, bairrista, cheio de aromas de lisboa, cheio de ti. beijo grande)

jorge vicente disse...

amiga, tu também me tens ensinado muita coisa :)

este poema é quase um poema a cheirar a medieval, renascimento, lisboa antiga, as naus, as caravelas!

um grande beijinho e tudo de bom para ti
jorge