8.8.09

o rio da vida



(pintura de paul pascal, "the banks of the nile", s/d)


"Conta-nos uma história Sufi:

«Um rio provém da sua nascente longínqua. Atravessa inúmeros obstáculos, mas a sua tremenda força permite-lhe vencê-los. Um dia, as suas águas são absorvidas pelas vastas areias do deserto que encontra.

Uma voz proveniente das areias diz-lhe:

- Faz como o vento, que passa suave sobre as areias.

O rio estava convencido de que fazia parte do seu destino atravessar aquele deserto. Mas continua a ver as suas águas serem absorvidas e responde:

- O vento sobrevoa o deserto e eu não o posso fazer.

- Enquanto continuares a atirar-te às areias com ímpeto, serás na melhor das hipóteses um pântano, não continuarás a ser um rio.

- E que posso eu fazer?

- Consente em seres absorvido pelo vento.

O rio nunca tinha perdido a sua individaulidade. Tinha muitas dúvidas que ao perdê-la a conseguisse recuperar.

- O vento desempenha essa função. Eleva a água, transporta-a sobre o deserto e depois deixa-a cair como chuva que se converterá num novo rio.

- E como posso saber se isso é verdade?

- Porque assim é. E se não acreditas, não passarás de um pântano. Mesmo conseguir isso levará muitos anos. E um pântano não é a mesma coisa que um rio.

- Posso continuar a ser o mesmo rio que sou agora?

- Não podes em caso algum permanecer assim - respondeu a voz. - A tua parte essencial é transportada e forma novamente um rio. Ainda hoje és chamado assim por não saberes qual é a tua parte essencial.

Ao ouvir estas palavras, alguns ecos ressoaram nos pensamentos mais profundos do rio. Lembrou-se vagamente que, em determinada altura, ele ou uma parte dele, nem sabia qual, foi levada nos braços do vento. Também se lembrou, ou teve essa ideia, de que era o melhor a fazer, apesar de não ser a atitude mais natural.

O rio entregou os seus vapores aos acolhedores braços do vento que suave e facilmente o levou para alto e bem longe, deixando-o cair quando alcançaram o topo de uma montanha, muitas milhas adiante. E porque tivera as suas dúvidas o rio pôde recordar e registar com maior profundidade os detalhes desta experiência. e ponderou.

- Sem dúvida, agora conheço a minha verdadeira identidade.

O rio estava a fazer a sua aprendizagem, mas as areias sussurraram:

- Nós temos o conhecimento porque vemos isso acontecer todos os dias, porque nós, as areias, estendemo-nos por toda a distância que vai do rio até à montanha.

E é por isso que se diz que o caminho pelo qual o Rio da Vida tem de seguir na sua travessia está esctito nas Areias." (1)

uma história sufi


(1) ANÓNIMO apud ISHI - Karma e Reencarnação. Carcavelos: Angelorum, 2003. ISBN 972-8680-73-2. pg. 103-105.

5 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

E qual era o problema de ser um pântano? Há alguns que são bem giros, têm crocodilos e tudo...

Cássio Amaral disse...

jorge,

meu querido preciso falar com você via email de uma idéia aí.

penso que a trajetória é mesmo de aprendizagem e aprimoramentos.

um grande abração de luz.

seu amigo e irmão cássio.

Cássio Amaral disse...

jorge,

meu querido preciso falar com você via email de uma idéia aí.

penso que a trajetória é mesmo de aprendizagem e aprimoramentos.

um grande abração de luz.

seu amigo e irmão cássio.

jorge vicente disse...

Se calhar, é mesmo por causa dos crocodilos, caro Rafeiro!...

jorge vicente disse...

Aprimoramentos, crescimento, crescimento,crescimento!