20.3.12

a visão biocêntrica



(fotografia de robert doisneau, "la derniere valse de 14 juillet", 1949)

"A visão biocêntrica não se confunde com a idéia de um Deus antropomórfico. Esse Deus está morto. Ela surge da vivência do sentir-se vivo, do sentir-se como parte da criação, como expressão da auto-poiese cósmica.

Aqui, o sentir-se vivo é o fundante, é o que fortalece e revela a identidade como expressão natural, espontânea e histórico-social da vida, surgindo como singularidade, como auto-poiese particular da auto-poiese cósmica. O Mestre é a Natureza em nós.

Do sentir-se vivo é que surge a percepção do si-mesmo, de um sentimento de vida, o qual vem da Biologia em direcção à Psicologia (...), da transformação do animal em espírito enraizado, ou corporeidade vivida. É a mudança do selvagem em linguagem e sua volta a um lugar anterior e fonte de sua aparição concreta em um mundo natural e espontâneo - a vida animal. Ao voltar à fonte animal, à natureza, conecta-se a uma verdadeira conspiração pelo ato de viver. (...)

Sinto com profundidade a conspiração pelo ato de viver, a existência de uma essência humana libertária, em algo vital que impulsiona o ser à vida e a algum lugar do infinito, cuja origem não está na consciência ou em qualquer forma de representação mental e sim em nossa raiz animal e selvagem, mundo bruto e indiviso. Encontramos aí a vida como possibilidade muitas vezes bloqueada, reprimida, negada, porém sempre presente. Só desaparece com a destruição do ser." (1)

Cezar Wagner de Lima Góis


(1)GÓIS, Cezar Wagner de Lima - Biodança: identidade e vivência. Fortaleza: Edições Instituto Paulo Freire do Ceará, 2002. p. 39.

15.3.12

biodanza / monte mariposa



(imagem de rolando toro, criador da biodanza, dançando)



PEQUENA NOTA INTRODUTÓRIA

Apaixonei-me pela biodanza em 2006, embora já a conhecesse desde 2005, altura em que fiz o meu primeiro workshop, na Quinta das Murtas, em Sintra. O responsável por esta descoberta foi o meu querido amigo Américo Raiado, grande Mestre de Amizade e de Companheirismo. Ele continua a chamar-me o meu Jorge, o "nosso" Jorge (tanto eu como ele pertencíamos a uma Associação Cultural chamada Escola do Espectador).

O que me apaixonou pela biodanza foi a sua dimensão humana, a sua capacidade da nos levar a dançar a vida: a dançar a nossa alegria de viver, a nossa capacidade de criar, o nosso poder de encantamento da vida e do prazer de existir, a nossa afectividade pelos outros e a nossa integração num Todo Maior que é a Vida.

A biodanza nasceu, como diz Rolando Toro, de um desejo de recriar aqueles gestos primordiais que conectam o humano à Vida, aqueles gestos primordiais que os nossos antigos dançavam no início: a dança primordial, a dança primitiva, da origem. Foi um movimento que nasceu nos anos 60, quando o Rolando trabalhava num hospital psiquiátrico do Chile. Através do contacto com os doentes desse hospital, descobriu que a música pode operar maravilhas na saúde humana e na capacidade de o homem se superar a si mesmo e ver-se a si mesmo com um Ser cósmico.

Quanto ao poema a seguir, foi escrito em 2006, numa semana de férias com biodanza no Monte Mariposa, um monte que fica situado perto de Tavira, Algarve. Foi uma das semanas mais maravilhosas da minha vida.

(este post pertence à 1ªfase, BC Amor aos Pedaços. Mais informações no blog da Rute, da Rô ou da Luma.)

Jorge Vicente



MONTE MARIPOSA

(a todos os meus amigos da biodanza)

no vale, a dança é a estrela
que brilha no alto do terraço
sob o céu partilhado

as mãos dão-se e a água
vibra como um terreno fértil
de um abraço simples

deus olha e sossega a alma
de quem se entrega no
céu do algarve

com a fogueira da culatra
iluminando as palavras de quem
se despe de si.

jorge vicente

14.3.12

sintra, ao final da tarde




(imagem do castelo dos mouros, sintra)


"ao final da tarde,
as pedras morrem como
se fossem feitas de
história

o presépio o castelo as
árvores e os séculos todos
num lento adeus ao nevoeiro

a serra de sintra é o último
reduto de um combate inglório:
a poesia, perante o medo, tem
apenas a missão de escrever o
chão." (1)

Jorge Vicente



(1)VICENTE, Jorge - Ascensão do fogo. São Mamede de Infesta: Edium Editores, 2008. p. 33.

11.3.12

"the next time it happens" (richard rodgers / oscar hammerstein II)



(fotografia de Manuel Alvarez Bravo, "la buena fama durmiendo" (1938)


"The next time it happens
I'll know what not to do

The next time it happens
I'll be wise enough to know
Not to trust my eyesight
When my eyes begin to glow

The next time I'm in love
With anyone like you
My heart will sing no love song
Till I know the words are true

The next time it happens
What a foolish thing to say
Who expects a miracle
To happen every day

It isn't in the cards
As far as I can see
That a thing so
Beautiful and wonderful
Could happen more than once to me" (1)

carmen mcrae



(1) retirado do single de carmen mcrae, "come on, come in / the next time it happens" (1955)

7.3.12

Projecto Mandala

Meus queridos amigos,

partilho com vocês um vídeo maravilhoso sobre o Projecto Mandala, um projecto muito bonito sobre agricultura sustentável e que muito tem ajudado os agricultores pobres do Norte do Brasil.

Aqui o vídeo:



Como todos sabem, ste post está inserido na iniciativa Teia Ambiental, idealizadas por Flora Maria e Gilberto da Cunha Gonçalves. O blog da Flora: http://floradaserra.blogspot.com/

Muitos abraços para todos
Jorge Vicente

6.3.12

"dança" (cezar wagner de lima góis)



(desenho de aleksandar duravcevic, "ballerina" (2008)


DANÇA

"Movimento do gesto,
movimento das vísceras
e dos nossos líquidos,
movimento geral
do corpo no espaço
desenhando no ar
a forma da liberdade
... emergindo da expressão.
Movimento da vida humana,
desdobrado
do movimento cósmico,
holofluxo
da dança das energias/partículas,
do pólen e das estrelas,
dança de determinações
e incertezas,
dança da harmonia germinando o Caos
e este, como pai,
germinando a mãe, que o gerou.
Dançar é nascer do útero e pintar
na tela da realidade
a existência,
bem antes de conhecê-la." (1)

Cezar Wagner de Lima Góis



(1) GÓIS, Cezar Wagner de Lima - Biodança: identidade e vivência. Fortaleza: Edições Instituto Paulo Freire do Ceará, 2002. p. 29.

3.3.12

biodanza



(imagem retirada do site www.osholeela.co.uk)


"A base conceitual de Biodança vem de uma meditação sobre a vida, ou talvez do desespero do desejo de renascer de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão. Poderíamos dizer, com certeza, da nostalgia do amor. (...) Na busca de uma reconciliação com a vida, chegamos finalmente ao «movimento primordial», a nossos primeiros gestos. Biodança realiza, assim, a restituição dos gestos humanos naturais, sua tarefa é resgatar o segredo perdido de nós mesmos: os movimentos de conexão. (...) Biodança tem sua inspiração nas origens mais primitivas da dança. (...) A dança é um movimento profundo que surge das vísceras do homem. É movimento de vida, é ritmo biológico, ritmo do coração, da respiração, impulso de vinculação à espécie, é movimento de intimidade." (1)

Rolando Toro


(1) TORO, Rolando apud GÓIS, Cezar Wagner de Lima - Biodança: identidade e vivência. Fortaleza: Edições Instituto Paulo Freire do Ceará, 2002. p. 23.