21.10.14

Poema




(fotografia de nila oakes)





carrego uma nuvem às costas

como se dependesse de mim

permanecer no silêncio



naquele silêncio

que não se quer rígido

esquecendo-se do propósito de

existir e de alimentar o fogo



sossega-me ver uma casa ao

longe, adormecida no ceptro

de terra abandonada



uma casa caiada de branco, todas

as casas o são, mesmo que os olhos

roubem a realidade

e deus a ignore.



a memória verga todas as coisas,

mesmo o silencioso movimento

da não-existência.



tudo é ilusório.



a casa abraça

a ferrugem dos corpos caiados

de gestos.   os dedos movimentam-se

numa sinfonia de trevas.


Jorge Vicente